Para Marília, discurso contra Bolsonaro motivou vazamento de investigação de caixa 2 feita pela PF

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Ao comentar o vazamento de informações acerca de uma investigação da Polícia Federal sobre o suposto uso de um caixa dois na campanha à Prefeitura do Recife, Marília Arraes (PT) volta a associar o episódio à prática de lawfare, numa ação direta do gabinete do presidente da república. Para a deputada federal, só isso explicaria o repasse de informações de um processo que corre em segredo de Justiça. 

O termo se refere à junção da palavra law (lei) e o vocábulo warfare (guerra), e, em tradução literal, significa guerra jurídica. O conceito invocado por Marília Arraes aponta para o uso ou manipulação das leis como um instrumento de combate a um oponente desrespeitando os procedimentos legais e os direitos do indivíduo que se pretende eliminar.

“É engraçado que isso saiu exatamente dois dias depois de que eu, cara a cara com Bolsonaro, fiz um discurso, bastante educado, mas expondo meu ponto de vista sobre os ataques que ele faz à democracia e o quanto ele não merecia estar ali recebendo o prêmio”, relembrou. 

Em novembro deste ano, o presidente da república foi condecorado com a Medalha do Mérito Legislativo. Como segunda secretária da mesa diretora da casa, a deputada fez um discurso onde questionou as credenciais de Bolsonaro para receber a honraria. 

“A Medalha do Mérito Legislativo tem em vista premiar aquele que, por seus feitos nos mais diversos campos de atividade, demonstram o mérito desses valores constitutivos do Poder Legislativo. Ela destina-se aos que desejam agregar e não dividir, incluir, não segregar, convergir, não dispersar. Àqueles que buscam o bem de todos os brasileiros e não apenas dos poucos que aderem a seu modo de ser e de pensar. Àqueles que buscam construir, não destruir”. 

De acordo com as informações contidas no relatório da investigação, supostas conversas de André de Souza, marido de Marília Arraes, com Sebastião Figueiroa, onde o companheiro da parlamentar pediria um empréstimo no valor de R$ 1 milhão, dividido em duas parcelas.

O pedido teria ocorrido em novembro, entre o primeiro e segundo turno da campanha pela prefeitura, disputada com João Campos (PSB). Marília Arraes defendeu o marido, negando relações com o empresário, e associou o nome de Figueiroa aos socialistas.

“Existiu uma investigação que não foi contra mim, foi contra um operador muito ligado a algumas pessoas que estão no governo, no poder. E encontraram no celular desta pessoa áudios de um telefone, que inclusive já foi investigado e o dono diz que não me conhece, não conhece meu marido. (…) A gente já requereu três vezes que a perícia fosse feita pala Polícia Federal para constatar que a voz não é dele, ou seja, quem tem culpa não quer que seja feita perícia, não quer que seja efetivada uma investigação. A gente já está pedindo há muitos meses que seja feita, acredito que há quase o ano que estamos pedindo. Inclusive pedimos que fosse gerado o boleto para que a gente pagasse e a Polícia Federal não tomou nenhuma atitude”. 

Reforçando as suspeitas, Arraes pede celeridade na conclusão do inquérito. “Coincidências não existem, mas é um processo que corre em segredo de Justiça e vazou para a imprensa pouco depois disso. Então, eu não tenho nada a dever. O que eu quero é que a Polícia Federal ande com isso mesmo  e que fique provado que a gente não tem nada a ver com essa questão”, finalizou.