Falta de exame pode ter resultado na morte de paciente da Maternidade de Juazeiro, afirma advogado

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Os familiares de Deliane Feitosa da Silva, seguem na busca por Justiça para a mulher morta aos 31 anos, no dia 30 de novembro, após apresentar um quadro de infecção generalizada, seguida por uma parada cardíaca. Deliane deu entrada no Hospital Materno Infantil de Juazeiro depois de um aborto espontâneo para fazer uma curetagem, procedimento utilizado para a raspagem da cavidade uterina, que normalmente é realizado para retirar os restos placentários. No entanto, a situação se agravou após a intervenção médica. Agora, uma investigação policial apura se houve negligência no atendimento à paciente.

“A Deliane passou mais de 40 horas seguidas no Materno Infantil de Juazeiro. O evento em si, a curetagem que é um procedimento simples, corriqueiro, não há mistérios, foi feito. Ela deu entrada dia 10 de julho e no dia 11, às 9h30 ela fez o procedimento e às 9h45 já estava acabado o procedimento. E a médica que o realizou identificou uma possível intercorrência. Depois disso, ela passou pelos menos 24 horas num estado perfeito de saúde, esperado, dentro da normalidade. Pelos prontuários que olhei e que estão no inquérito, ela não apresentou nenhuma piora, a não ser uma náusea, um estado de cefaleia simples, o que era esperado, e foi piorando porque foi vazando o material, que era para ficar dentro do intestino, para o resto do corpo. Isso entrou em outros órgãos e deu uma sepse, uma infecção generalizada e ela, às pressas, teve que ser transferida para o Hospital Dom Malan. No dia 13 de julho, 01h30,  ela foi transferida”, explicou ao Nossa Voz o advogado da família, Sátiro Cavalcanti.

Ainda segundo Cavalcanti, Deliane passou mais de 40 horas na Maternidade de Juazeiro e contou com a avaliação de cinco médicos ao longo deste período, sem um diagnóstico preciso acerca dos sintomas que passou a apresentar. “Houve um tempo absurdo de mais de 40 horas em que cinco médicos e vários enfermeiros, dentro do Hospital Materno Infantil de Juazeiro, estavam cuidando dela. Houve trocas de plantões e ela foi piorando, até chegar a um estado de saúde gravíssimo e foi transferida. No Hospital Dom Malan, mesmo sem médico específico para o caso, os profissionais conseguiram identificar a situação”. No dia 08 de novembro Deliane foi transferida  para o Recife, onde faleceu no último dia 30.

Para o advogado, a ausência do exame de ultrassonografia transvaginal pode ser o fator chave para a não identificação do quadro. “A médica que fez o procedimento, pelo prontuário que ela assinou, ela identificou uma possível intercorrência e pediu uma ultrassonografia transvaginal. Não foi feita. E foi reiterado pelo menos cinco vezes por médicos diferentes, dentro dessas mais de 40 horas. Então, o médico pegava o plantão, via o histórico médico dela, identificava que era preciso, reiterava e por algum motivo que desconheço, a maternidade não fez. Até a data atual não temos explicação para isso e é justamente um dos questionamentos que eu levantei lá no inquérito, tanto na Delegacia da Mulher de Juazeiro, quanto no Ministério Público. É uma situação que é muito pontual e relevante para isso. Porque a meu ver, interferiu no trajeto da Deliane no Hospital e eu não tenho explicação, a delegacia não tem explicação e nem o MP, já que administração pública de Juazeiro não compareceu”.

Segundo Sátiro, apenas um documento foi apresentado às autoridades policiais. “Eles foram formalmente intimados e mandaram um ofício dizendo que não iriam apresentar, a não ser por determinação judicial. Muito embora, a família da paciente, que na época estava em coma, tenha ido lá, eu fui, ajudei e demos todo o suporte e não estavam dando essa documentação, não disponibilizaram. A prefeitura apresentou esse ofício dizendo que não levaria, alegando uma fundamentação legal nesse sentido. A gente teve que fazer uma representação para a delegada, que a fez na Justiça e a 2ª Vara Criminal de Juazeiro determinou uma busca e apreensão e foram lá pegar essa documentação médica”, relatou, reiterando a colaboração de médicos e outros profissionais de saúde que acompanharam o caso de Deliane.

O caso segue em investigação na Delegacia da Mulher de Juazeiro e após a conclusão do inquérito será encaminhado ao Ministério Público. “Lá haverá dois procedimentos de investigação Ministerial também, sobre essa situação. Então, extrapola e muito uma situação de uma médica para toda a situação de vários médicos e da administração pública, porque foi uma omissão”, afirmou.

Em meio a toda essa dor, a família busca por respostas. “Existe uma ausência de explicação do porquê esse exame não foi feito. Creio eu, e pelos profissionais que eu falei, que esse exame seria útil para identificar aquela lesão. Talvez a Deliane estivesse aqui. A gente não pode afirmar com 100% de certeza, mas como advogado e como ser humano, fiquei indignado quando vi essa situação. Um procedimento de curetagem é muito simples, era uma mãe de cinco filhos. Um deles eu vi aprender a andar recentemente”.

Em nota, a Prefeitura de Juazeiro lamentou o ocorrido e informou que ” não compactua com qualquer tipo de transgressão. A família da paciente, através do seu esposo, foi acolhida pelo serviço social do município e continua recebendo toda a assistência necessária. Em tempo, reitera que na época do ocorrido, as providências cabíveis foram tomadas. O município segue à disposição”.

A médica que realizou o procedimento na paciente segue afastada.