ESTRADAS EM PERNAMBUCO: apesar de investimentos, Estado tem destaque negativo no País e no Nordeste

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Foto: Bruno Campos

O governo de Pernambuco já investiu, desde 2011, na segunda gestão do PSB, quase R$ 4 bilhões na recuperação e implantação da malha rodoviária estadual (R$ 1,9 bilhão do Programa Caminhos da Integração e R$ 2 bilhões do Programa Caminhos de Pernambuco). E é fato que há muitas estradas recuperadas pelo Estado. Mas o passivo ainda é grande e avança com o tempo.

Por isso, Pernambuco segue se destacando negativamente no contexto nacional, assim como todo o Nordeste, que só perde para a região Norte do Brasil. E se o recorte for o Nordeste, o Estado também está ruim. Uma releitura da Pesquisa Rodoviária da Confederação Nacional de Transportes (CNT) 2021, tradicional levantamento do segmento rodoviário realizado desde 1995 e divulgado em dezembro, mostra isso.

O Estado teve quatro rodovias estaduais avaliadas como péssimas no ranking das piores do País. Foi o segundo Estado nordestino a figurar na lista das piores. Além de Pernambuco, a Bahia aparece com duas rodovias péssimas. Nenhum outro estado nordestino teve avaliações tão ruins.

As rodovias pernambucanas mais mal avaliadas na pesquisa de 2021 foram, por ordem, a PE-126, que liga Palmares a Quipapá, ligando Mata Sul e Agreste; a PE-096, que liga Palmares a Barreiros, na Mata Sul; a PE-545, entre Exu e Ouricuri, no Sertão do Araripe; e a PE-177, que liga Quipapá a Garanhuns, no Agreste do Estado.

Todas receberam uma avaliação geral péssima. Foram avaliados o pavimento, a sinalização e a geometria da via. São levadas em conta, respectivamente, variáveis como condições do pavimento, placas e alguns elementos da via, como as curvas.

POR ENQUANTO, SÓ PROMESSAS

E, pelo menos até agora, quase um ano depois da divulgação da Pesquisa CNT de Rodovias 2021, as quatro estradas seguem ruins. Têm previsão de intervenções, mas nada começou ainda.

Segundo a Secretaria de Infraestrutura de Pernambuco (Seinfra), a PE-096 acabou de ter R$ 23,6 milhões anunciados pelo governo do Estado para sua completa recuperação. A restauração vai contemplar os 40 quilômetros da rodovia, a partir do entroncamento com a PE-060, em Barreiros, até a BR-101, em Palmares, passando também pelo município de Água Preta.

A PE-545 está com a licitação em andamento e terá 75,3 quilômetros recuperados ao custo de R$ 155 milhões. Enquanto a PE-177 está com os projetos básico e executivo de restauração em andamento. Serão 54 quilômetros restaurados no trecho entre a BR-104, em Quipapá, e a BR-423, em Garanhuns.

PERNAMBUCO E O NORDESTE

Fazendo o recorte do Nordeste, as estradas de Pernambuco apareceram na Pesquisa CNT como as que mais tiveram a pior classificação. Das 21 rodovias avaliadas como péssimas no País, nove estão no Nordeste. E dessas, quatro estão em Pernambuco.

Numa comparação com os outros oito estados da região, a Bahia aparece com duas rodovias péssimas, a Paraíba, o Maranhão e o Piauí com uma cada. 

Na avaliação da malha considerada ruim, Pernambuco mais uma vez se destaca. Das 23 rodovias avaliadas como ruins no Nordeste, sete estão em Pernambuco. Enquanto a Bahia aparece com seis, a Paraíba e o Maranhão com três, o Ceará com duas, e Sergipe, Rio Grande do Norte e o Piauí com uma cada.

VISÃO DO SETOR DE TRANSPORTE DE CARGA

Ninguém melhor do que quem depende das rodovias para avaliá-las. E, na opinião do presidente da Federação de Transporte de Cargas do Nordeste (Fetracan), Nilson Gibson Sobrinho, Pernambuco não está tão ruim quando a comparação é feita com o Nordeste.

“Estamos falando praticamente da mesma malha rodoviária. São Estados atendidos basicamente pelas mesmas rodovias federais: BRs 101 e 116. Não vejo Pernambuco como o pior. Ao contrário”, afirma.

“Agora, de fato, temos projetos que esperamos 40 anos para ver ser concretizado, como é o caso da duplicação da BR-101 (entre RN e SE). E outros que precisam sair do papel, de um jeito ou de outro, como é o caso do Arco Metropolitano”, diz.

A Fetracan representa 2.600 empresas de transporte rodoviário de cargas, que contam com uma frota de 120 mil caminhões. Desses, 38 mil são veículos de profissionais autônomos.

“Sofremos muito sem o Arco Metropolitano, promessa do governo Paulo Câmara que não será concretizada. Mas precisamos dele para interligar o Porto de Suape aos polos automotivo e vidraceiro de Goiana (Mata Norte) e cervejeiro de Igarassu (RMR). Isso é urgente”, enfatiza.

DETALHAMENTO

Para recuperar a malha rodoviária avaliada pela CNT em Pernambuco seriam necessários investimentos na ordem de R$ 1,52 bilhão. De forma geral, o Estado tem 72,2% da malha rodoviária pavimentada com problemas e avaliados como regular, ruim e péssimo. Menos de 30% da malha foram considerados bons ou ótimos.

Quase 50% das rodovias pesquisadas têm problemas no pavimento e a sinalização viária segue sendo uma das principais ausências das rodovias em Pernambuco: 85,6% da extensão da malha rodoviária da região são consideradas regulares, ruins ou péssimas.

A geometria (traçado) é outro problema: 67,4% da extensão da malha rodoviária do Estado apresentam algum tipo de problema e 32,6% estão ótimas ou boas. As pistas simples predominam em 84,0%. Falta acostamento em 33,6% dos trechos avaliados e 86,1% dos trechos com curvas perigosas não têm sinalização.

O QUE DIZ O GOVERNO DE PERNAMBUCO

O governo de Pernambuco se orgulha do trabalho que vem fazendo na infraestrutura rodoviária do Estado com o Programa Caminhos de Pernambuco. A secretária de Infraestrutura, Fernandha Batista, define como o maior programa já realizado e que tem números recordes.

“São mais de 40% da malha rodoviária estadual sendo totalmente recuperados. São 77 rodovias atendidas, totalizando dois mil quilômetros da malha refeita. Temos 33 estradas concluídas e 44 em obras”, afirma.

“Além destas, outras 45 estradas serão implantadas e, entre 2019 e 2022 serão 122 rodovias reconstruídas completamente. Há obras em todas as regiões do Estado, mesmo em meio a uma crise econômica forte, provocada pela pandemia”, reforça.

O Caminhos de Pernambuco foi lançado em 2019 e previa um investimento de R$ 505 milhões, mas foi inserido no Plano Retomada – pós pandemia de covid-19 – e o valor subiu para R$ 2 bilhões até o fim de 2022. Em 2011, a gestão PSB lançou o Programa Caminhos da Integração, com R$ 1,9 bilhão de investimento.

Até o momento, foram 33 obras concluídas, totalizando 506 quilômetros de rodovias, e outras 44 estão em andamento, somando 983 quilômetros de rodovias requalificadas. Ao todo, são mais de R$ 1,4 bilhão investido para a implantação e reconstrução de estradas, contemplando 1.489 quilômetros em todas as regiões do Estado. As obras já geraram mais de 15 mil empregos diretos.

Entre as intervenções em andamento estão: as PEs 310 (Iguaracy); 017 (Jaboatão dos Guararapes); 077 (Glória do Goitá); 058 (Pombos); 064 (Sirinhaém/Ibiratinga/Núcleo 31); 265 (Coqueiros/Sertânia/Divisa PB); 499 (Cabrobró/Terra Nova); 170 (Lajedo/Canhotinho); 075 (Goiana/Itambé/Ibiranga); 045 (Escada/Vitória de Santo Antão);

270 (Arcoverde/Buíque/Tupanatinga); 145 (Fazenda Nova/Brejo da Madre de Deus); 095 (Limoeiro/Caruaru); 041 (Araçoiaba/Carpina); 300 (Águas Belas/Inajá); 203 (Lagoa do Ouro); 043 (acesso as unidades prisionais de Araçoiaba), 223 (Saloá/Bom Conselho); 103 (Bezerros/Bonito), 092 (Vicência/distrito da Borracha). E ainda os acessos a Jirau, Itapissuma, Iatecá e a praia do Abreu do Una, em São José da Cora Grande.

Já na lista de obras entregues em todas as regiões de Pernambuco, estão: as PEs 635 (Afrânio/Dormentes); 310 (primeira etapa em Custódia); 460 (Conceição das Crioulas, em Salgueiro); 337 (Flores); 18 (Paulista); os três trechos da 275 (indo do entroncamento da PE-280, em Albuquerque Né, até a divisa com o estado da Paraíba); 166 (Belo Jardim/Barra de Farias); 574 (Santa Maria da Boa Vista/Lagoa Grande); 576 (Trindade/Ipubi), 264 (Grossos), acessos aos municípios de São Benedito do Sul, Paranatama, Cumaru, Machados, entre outros.

Além da recuperação de pontes como as de Santa Cruz e Bodocó, nas cidades de mesmo nome, a estrutura sobre o rio Ariquindá, no acesso à Praia de Carneiros; a do Caxito, em Ipojuca; e a de Natuba, em Vitória de Santo Antão.

(JC)