“Foi muito forte, foi muito brutal, eu acordei com os gritos dela, e presenciei tudo”, diz filha de professora assassinada 

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Jessica Almeida Peixinho
Foto: Moacir Santana

Será realizado nesta terça (29) às 7h30 no Fórum de Petrolina, o juri popular de Nilson Caxias de Souza, acusado de assassinar a professora Mery Vânia de Almeida, em abril de 1998. Ele está preso desde o ano passado, quando então foi preso, aguardando o julgamento. 

Nilson matou a ex-namorada com três facadas, na casa da vítima, no Centro de Petrolina, na presença da filha da professora, Jéssica de Almeida, que na época tinha apenas 7 anos e testemunhou o crime. Ela falou sobre a expectativa para o julgamento no Nossa Voz desta segunda-feira (28). ” A gente tá realmente buscando justiça e o apoio popular, porque foi um crime bárbaro, foi um crime que chocou a cidade”, disse.

“Infelizmente, tudo que eu lembro da minha mãe é justamente o momento do assassinato. Foi muito forte, foi muito brutal, eu acordei com os gritos dela, e presenciei tudo, então essa memória eu revivo desde os meus sete anos. Eu faço acompanhamento psicológico desde sempre, desde muito pequena,  mas o trauma foi tão grande que essa memória ficou e até hoje eu lembro tudo nitidamente como foi que aconteceu. Infelizmente são as únicas memórias que eu tenho da minha mãe, eu não consigo lembrar dela viva, eu até lembro de algumas situações que ela estava presente, mas eu não consigo lembrar dela, só consigo lembrar do momento do crime, foi a memória que ficou”, afirmou Jéssica. 

“Esses vinte anos foram realmente de total impunidade, a gente sempre buscou justiça pela minha mãe, o processo foi instaurado assim que aconteceu, desde o primeiro momento, eu, mesmo sendo criança, afirmei que tinha sido ele, a pessoa que trabalha na nossa casa, também viu ele na cena do crime, então nunca foi uma dúvida sobre a autoria do crime, só que infelizmente os sistemas de justiça naquela época não eram integrados, então só agora, quando a gente encontrou ele, é que a gente descobriu que ele estava sendo procurado em Pernambuco. Ele tava na Bahia, ele tinha todos os documentos válidos, porque na Bahia ele não era procurado, e a família achava que ele estava sendo procurado no país inteiro, e na verdade ele estava sendo procurado só em Pernambuco, então no estado ao lado ele tinha uma vida completamente normal”, relatou.

Mery Vânia com filha

“É terrível pra família imaginar que ele destruiu minha família, fez o que fez, me deu esse trauma, tirou a minha mãe, e ele vive há vinte anos tendo família, netos, filhos, trabalhando como uma pessoa normal, tendo todos os documentos. A família acreditava que ele estava se esgueirando, se escondendo, vivendo como um fugitivo, e não, ele levava uma vida normal, isso trouxe uma sensação de revolta ainda maior, depois de tudo que já tinha acontecido”, contou.

Para Jessica, esse momento representa uma ação a favor da mãe dela. “Com o júri amanhã, a gente tá com a esperança que a justiça seja feita. (…) Nenhuma pena que ele consiga amanhã, nenhuma condenação vai trazer a minha mãe de volta, nem vai apagar o estrago que ele fez na minha vida, mas pelo menos uma sensação de que algo foi feito por ela, que ele não pode só virar as costas e fingir que nada aconteceu, que foi o que ele fez”. 

Jessica relatou o acompanhamento do caso. “Ele tá preso, ele primeiro conseguiu prisão domiciliar, depois foi pra preventiva, ele tá preso em Simões Filho, não foi recambiado para Petrolina, ele permanece em Simões Filho. Amanhã no julgamento ele vai participar através de videoconferência, ele não vai tá aqui pessoalmente, e a nossa esperança é que ele fique preso e que permaneça em regime fechado porque o que ele fez foi uma atrocidade, e não é porque se passaram mais de vinte anos que muda o que aconteceu”.

A filha da vítima relata a lentidão da justiça. “O crime era pra ter prescrito em 2018, mas em 2014 houve uma suspensão do crime, justamente porque ele era um réu que já estava sendo procurado, já tinha a certeza de quem tinha sido o autor do crime e nunca tinha sido localizado, então só graças a essa suspensão em 2014 é que a gente tá conseguindo ir a júri agora, porque senão o crime já teria prescrito”. 

“No primeiro julgamento que foi o que decidia se ele ia a júri, ele foi extremamente debochado, irônico. A hipótese que ele levantou, é que ele e minha mãe discutiram, minha mãe deu um tapa no rosto dele, e matou ela. Nós não escutamos nenhuma discussão em casa, eu tava em casa, tanto que eu acordei com os gritos dela, e ninguém ouviu nenhuma discussão, a moça que trabalhava lá em casa também, ninguém relata nenhuma discussão, mas mesmo que tivesse acontecido uma discussão, imagina a proporcionalidade, você levar um tapa e você matar uma mulher com uma facada pelas costas, que foi o que ele fez com minha mãe”, disse.

“Peço a todo mundo que puder comparecer, porque é um crime contra a sociedade, é um crime contra a mulher, é um crime contra a família, a gente não tá lutando só pela minha mãe, a gente está lutando por justiça, e essa justiça tem que ficar de exemplo pras outras pessoas, então peço a todo mundo que puder comparecer, amanhã a gente estará o dia inteiro lá no fórum, e realmente pedindo o apoio da sociedade civil”, finalizou.