Homenageado com a Medalha da Ordem do Mérito Industrial, o empresário Rafael Coelho, do Curtume Moderno, coloca a humildade acima do mérito que o habilitou a receber tal honraria. Em entrevista ao Nossa Voz desta quarta-feira (25), ele deixou o coração falar mais alto e fez questão de compartilhar essa conquista com seus colaboradores e familiares que o incentivaram nesta caminhada.
“Na verdade, eu serei o portador dessa homenagem. Essa homenagem é maior do que eu. Os verdadeiros homenageados, em primeiro lugar, são as pessoas que trabalham junto comigo, construindo a indústria que eu construo. É uma homenagem aos que me antecederam e aí eu não posso deixar de mencionar os cidadãos que foram os filhos da minha avó”, afirmou em referência aos baluartes do desenvolvimento da região Nilo, Geraldo, Osvaldo, Gercino, José, Paulo, Augusto e Adalberto Coelho.
“Foram pessoas que tiveram uma preocupação muito maior do que só com os empreendimentos deles, que pensaram na região, no país, no Estado e que deram uma grande contribuição. E foram pessoas extremamente importantes na industrialização do Sertão. Foram eles que trouxeram a indústria para cá. Então não posso deixar de pensar que essa é uma homenagem a eles, à essa história”, completou.
Ao falar sobre os pais, Ivete e Augusto Coelho, Rafael não escondeu o orgulho. “Não posso deixar de mencionar meus pais que pegam as vidas deles e transformaram em filantropia. E aí, filantropia de uma dimensão muito maior porque não é a filantropia de você dar contribuição financeira, eles de certa forma, dedicaram a vida deles a isso. Então, eu tenho certeza que essa homenagem é a eles também”.
Mas ao falar sobre a esposa e os filhos, a emoção transbordou. “Eu tenho uma companheira chamada Érica, que poderia ser uma cidadã do mundo, que escolheu ser cidadã petrolinense, que me deu três filhos maravilhosos e que é minha parceira nessa caminhada. Então, no fim, eu sou apenas o portador dessa homenagem no tempo e no espaço. Essa homenagem é muito maior do que eu”, pontuou.
A indústria em Pernambuco
Como vice-presidente da Federação das Indústrias de Pernambuco, Rafael Coelho também trouxe números atualizados na produção no Estado. “A indústria em Pernambuco emprega mais de 270 mil pessoas de forma direta. Inquestionavelmente a agroindústria é o grande fator de desenvolvimento da nossa região, a agricultura principalmente. Mas, o Brasil tem uma agricultura forte, tanto porque tem a agroindústria, quanto porque ele tem a indústria sendo a base da agricultura. Isso quer dizer que você tem trator, indústria de fertilizante, caixas, todo um respaldo que você dá para a agricultura baseado na indústria”.
À frente da direção do Curtume Moderno há 30 anos, o empresário demonstrou toda a dedicação e empenho à atividade. “Eu tenho um orgulho enorme do curtume e costumo dizer para os meus funcionários, para as pessoas que trabalham comigo que mais importante do nós termos orgulho de Petrolina, o que nós queremos é que Petrolina tenha orgulho do curtume. Então, é isso que a gente busca, então, de certa forma, acho que a gente tem conseguido isso”.
Responsabilidade Socioambiental
E isso se traduz na responsabilidade socioambiental do gestor que também integra o Comitê da Bacia do São Francisco. “É uma empresa reconhecida nacionalmente, que tem um cuidado muito grande com o rio. Tem um impacto ambiental inquestionavelmente, mas nós cuidamos disso com muito carinho. Eu, aliás, sou um apaixonado pelo rio, uma das minhas maiores preocupações é que a gente consiga trabalhar com o menor impacto ambiental possível. E nós temos certificação ambiental também e ela é baseada nesses parâmetros que estou falando”.
O Curtume Moderno tem como principais matérias primas o couro bovino e as peles de caprinos e ovinos, originários de 30 mil propriedades, segundo os números repassados pelo Banco do Nordeste. “São 30 mil pequenas propriedades espalhadas pelo Nordeste que produzem essas peles que nós processamos. Então, é fundamental a existência do curtume porque permite a agregação de valor para esses produtos, para que eles não se percam. E o que nós fazemos? Transformamos couros e peles em produtos extremamente nobres”.
Cadeia produtiva
Apesar da redução da atividade no país, o produto resultante agrega valor à cadeia produtiva. “Hoje são poucos os curtumes que restaram, porque na verdade, você teve um filtro muito grande ao longo dos anos e as diversas crises econômicas fizeram vários saírem do ramo. Nós, infelizmente, hoje somos exceção no Nordeste, somos quatro curtumes de tamanho razoável processando caprinos e ovinos E eu acho que é uma atividade muito importante para dar respaldo a essa pecuária que eu estou falando aqui. E essa é a nossa busca, fazer produtos de alto valor agregado, para que a gente possa também remunerar também os produtores rurais”.
Atualmente, além de fornecer para o mercado nacional, o Curtume Moderno também exporta para outros países, tendo atualmente a Itália como principal importador, além da China, Portugal, Finlândia, Argentina, dentre outros. “E agora também voltamos a importar porque com esse momento cambial que o Brasil está vivendo e com os problemas que aconteceram na China, o Brasil voltou a desempenhar o papel importante na exportação de calçados. E como somos fornecedores da indústria calçadista, houve um aumento muito grande da demanda, e aí temos que importar novamente peles de caprinos e ovinos”.
Medalha da Ordem do Mérito Industrial
Criada em 1958, a Medalha da Ordem do Mérito Industrial é concedida a personalidades e instituições que contribuem significativamente para o desenvolvimento da indústria brasileira e do país. Entre os homenageados estão os ex-presidentes Juscelino Kubitschek e Fernando Henrique Cardoso; o ex-vice-presidente José de Alencar e os industriais Jorge Gerdau, Antônio Ermírio de Moraes, Eliezer Batista e Ivo Hering. “Quando você recebe uma homenagem como essa aumenta a sua responsabilidade, meu sentimento é exatamente esse, mais compromisso”, reforçou Rafael Coelho.
Ao finalizar a entrevista ao Nossa Voz, o empresário deixou uma mensagem para os empreendedores de toda a região. “Nós fomos pessoas agraciadas com a coragem de empreender. Então, essa coragem nos faz pessoas, não diferenciadas, mas privilegiadas e o que isso quer dizer? Que temos mais compromisso ainda com a nossa comunidade. Então, a minha mensagem é de esperança no Brasil. Eu acredito no Brasil, eu acredito nas pessoas e, principalmente, nós é que temos que fazer a diferença. Não podemos delegar isso para ninguém. A diferença quem faz somos nós mesmos, cada um de nós. Não adianta delegar isso para o governo, para a prefeitura, nada. Óbvio que essas instituições têm um papel extremamente importante, mas somos nós que temos que cumprir o nosso papel no dia a dia, fazendo o melhor”.
