Dois casos de racismo em escola particular de Juazeiro (BA), levam mãe de estudante a abrir novo BO

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A mãe de um adolescente de 13 anos, Dayara Fonseca Guimarães, registrou hoje (25/06/2022) o segundo Boletim de Ocorrência (BO), agora, o de número 348929/2022, na Delegacia de Juazeiro (BA). É que seu filho foi, pela segunda vez, só no mês de junho, vítima de racismo na Escola Geo, praticado por estudantes do colégio. A família do jovem foi acompanhada por representantes do
Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Juazeiro (Compir-BA) e pelo advogado, que representa o caso, Mário Cleone de Souza Júnior.


No BO ele relata que, no dia 21 de junho, ao entrar na escola, foi chamado de “macaco” e “feinho”, por dois estudantes. Ele procurou a direção da escola para denunciar o ocorrido e exigir providências. Os acusados foram chamados, reconheceram o que haviam feito e foram punidos com uma suspensão de três dias. No entanto, o jovem relatou que, no dia seguinte, eles foram vistos na escola, sem que a punição tivesse sido efetivada. O jovem declarou que está muito triste com tudo o que está acontecendo e que, apesar de tudo, pretende permanecer na Escola. Ele espera, que, depois dessas denúncias, isso não aconteça mais com ele e nem com mais ninguém.


O primeiro crime A violência racial contra esse adolescente começou no dia 03 de junho, quando outro aluno o chamou de “porco”, “preto”, “nojento” e “macaco”. A indignação e revolta da mãe e da família levaram ao registro do primeiro BO, de número 12031/2002. Segundo Dayara, a suspensão ao aluno agressor também não se concretizou. E a saída encontrada pela instituição, foi de fazer com que o estudante pedisse desculpas e abraçasse seu filho, o que para Dayara, foi uma saída desastrosa. “A gente não pode deixar isso acontecer. Já aconteceu duas vezes, pode acontecer uma terceira, quarta vez e não ter mais limite. Eu quero frear isso! Não pode uma juventude crescer com tanto preconceito, tanto racismo dentro de casa e levando para a escola. E a escola não
está conseguindo abordar essa questão. E não só pelo meu filho, mas por outras crianças. Eu quero que meu filho cresça sabendo que a gente não pose viver achando que isso é normal”, declarou Dayara Guimarães.


Leis antirracista precisam ser respeitadas Para os conselheiros do Compir, Márcia Guena e Nilton Almeida, a escola necessita, com
urgência, aplicar a Lei 10.639 e 11.245 que obriga o ensino das culturas afro-brasileira e indígena nas escolas do país, bem como a aplicação do Estatuto da Igualdade Racial e de Combate ao Racismo Religioso de Juazeiro, instrumentos importantes de combate
sistemático ao racismo. “Essa família está tendo uma atitude muito corajosa e a justiça precisa ser feita. O comportamento racista precisa ser reprovado. Nós negras e negros exigimos respeito. Racismo é crime, é uma covardia. É preciso que que essa escola se posicione para garantir às famílias um ambiente agradável, um ambiente seguro, de bem-estar, cidadão. Se a gente tem um ambiente antirracista, todas as crianças e toda a escola é beneficiada. Se há uma negligência no tratamento dessas violências, toda a comunidade sai perdendo, em particular as crianças negras”, afirma Nilton Almeida.


O advogado do caso Mário Cleone, acredita que os processos abertos são instrumentos para conscientizar a população. “Nós precisamos dar um basta nessa chaga social que é o racismo. Na medida que você tem uma família com essa coragem, essa gana, com desejo de justiça, evitando que esse tipo de atuação ocorra dentro do ambiente escolar, você está dando um recado para a sociedade, está dizendo que a prática do racismo é crime e precisa ser extirpada o quanto antes. O objetivo das ações judiciais não são obter qualquer vantagem financeira para família. Vai muito além disso. Que sirva para a própria escola rever suas práticas
pedagógicas”.